Brasil já reúne indicadores para sair do Mapa da Fome da ONU
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) deve fazer anúncio extraoficial em cúpula de Adis Abeba, na Etiópia, entre os próximos dias 27 e 29 de julho. Em 2014, País levou 11 anos para sair do Mapa da Fome. Agora, menos de três

O Brasil está prestes a alcançar mais uma vez um marco histórico no combate à fome. Depois de sete anos, o país deve sair novamente do Mapa da Fome da ONU, a Organização das Nações Unidas, e a conquista pode ser anunciada extraoficialmente na próxima semana.
Em evento previsto os dias 27 a 29 de julho, na Etiópia, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) deve reconhecer os avanços do país na segurança alimentar e a saída do Brasil do Mapa da Fome.
Na última quinta-feira (24/7), o presidente Lula demonstrou confiança ao comentar sobre o assunto durante uma cerimônia de anúncios do Governo Federal em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha (MG).
Nós acabamos com a fome em 2014. Quando eu voltei em 2023, tinha 33 milhões de pessoas passando fome outra vez. Depois do golpe na Dilma, não cuidaram mais disso. Mas vocês vão ter uma surpresa: esta [em uma] semana, o Brasil vai sair do Mapa da Fome outra vez”, afirmou o presidente Lula.
O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias, vai representar o Brasil no encontro do Comitê de Segurança Alimentar da ONU, em Adis Abeba, capital da Etiópia.
Em sua participação no programa Bom dia, Ministro, na última terça-feira (22), Dias falou sobre os resultados recentes do Brasil. E que o País já está pronto para a nova conquista.
Mesmo em 2023 e 2024, a gente já estaria fora do Mapa da Fome. Em 2023 a gente reduziu de 4,7%, caiu para 2,8% {porcentagem da população em insegurança alimentar severa]. E em 2024, eu acho que a gente deve ter ficado 2,3%, 2,4% para baixo. Com 2,5% para baixo, já sai do Mapa da Fome"", explicou Wellington Dias.
Por novos critérios adotados pela FAO, a entidade divulga o relatório do Mapa da Fome levando em conta a média de redução da pobreza dos três anos anteriores. Por esse calendário, a divulgação oficial de que o Brasil saiu desse indicador ocorrerá em julho de 2026. Porém, a expectativa de que esta divulgação seja antecipada extraoficialmente se dá pelo fato de o País já ter atingido os patamares exigidos.
Reveja o Bom Dia, Ministro com Wellington Dias
Cauteloso, Dias completou: "O resultado de 2024 nos dará a segurança de que neste ano de 2025 a gente complete o triênio para, em julho de 2026, no anúncio da FAO, o Brasil estar fora do Mapa da Fome".
Reconstrução desde 2023
O Brasil já tinha saído do Mapa da Fome em 2014, segundo relatório anual produzido em conjunto por agências da ONU como FAO, FIDA, UNICEF, PMA e OMS, e sustentava a posição até 2018. Entre 2019 e até 2022, contudo, houve crescimento da pobreza, extrema pobreza e da insegurança alimentar e nutricional. O País voltou ao Mapa da Fome no triênio 2019-2021 e se manteve no triênio 2020-2022.
No ano passado, o relatório apontou que a insegurança alimentar severa caiu 85% no Brasil em 2023. Em números absolutos, 14,7 milhões deixaram de passar fome no país. A insegurança alimentar severa, que afligia 17,2 milhões de brasileiros em 2022, caiu para 2,5 milhões. Percentualmente, a queda foi de 8% para 1,2% da população.
Dias havia destacado, em sua mais participação no Bom Dia, Ministro, o ritmo de superação das desigualdades e a saída próxima do Mapa da Fome.
“Veja que o Brasil já é o país que saiu da fome em menos tempo, 11 anos [em 2014]. Agora vamos alcançar em três anos. E ao mesmo tempo, reduzindo a miséria, estava em 9%. O Banco Mundial divulgou agora, caiu para 4%. Reduzindo a pobreza, a pobreza estava em 37% em 2021, caiu agora para 23%, segundo o Banco Mundial, o FGV, vários estudos do IBGE”.
Nós tivemos a maior redução da desigualdade da história do Brasil. Todos esses indicadores são recordes, tanto da miséria como da pobreza”, afirmou Wellington Dias
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Foto: Roberta Aline
Bolsa Família, empreendedorismo e emprego
Com a reformulação do Bolsa Família a partir de 2023, que garantiu um repasse mínimo de R$ 600 mensais, um estudo do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome e da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal revelou a redução em 91,7% de crianças na primeira infância que vivem em famílias na condição de pobreza ou extrema pobreza (renda mensal familiar de até R$ 218 por pessoa).
Além dos R$ 600 mensais, o programa repassa R$ 150 a mais para cada criança de zero a seis anos e R$ 50 a mais para crianças e adolescentes de sete a 18 anos, gestantes e nutrizes no grupo familiar. O programa também trouxe de volta o acompanhamento de condicionalidades, como frequência escolar e vacinação, como instrumentos de fortalecimento do acesso a direitos básicos de saúde e educação.
Em outra frente, a criação de novos empregos e ações do governo para incentivar o empreendedorismo, como o Acredita no Primeiro Passo, foram fundamentais para o aumento da renda das famílias brasileiras.
Como reflexo, cerca de um milhão de domicílios deixarão de receber o benefício do Bolsa Família em julho. A maior parte dos desligamentos ocorreu após cumprirem a Regra de Proteção: 536 mil famílias.
A regra prevê que famílias que tiverem um aumento da renda mensal acima de R$ 218 por pessoa sigam acompanhadas e recebendo benefícios. Para isso, esse aumento de renda não pode ultrapassar meio salário mínimo por indivíduo da família. Os beneficiários que ingressaram na Regra de Proteção passam a receber 50% do valor regular do Bolsa Família, por um período de até 24 meses.
Esse público ainda é protegido por outra medida: o Retorno Garantido. Ela é aplicada quando a família que ultrapassou o período de 24 meses na Regra de Proteção ou solicitou o desligamento voluntário do programa e volta à situação de pobreza. Nestes casos, os antigos beneficiários têm prioridade para voltar a receber o Bolsa Família.
Além das famílias que deixam o programa por atingirem o prazo máximo na Regra de Proteção, outros 385 mil domicílios ultrapassaram R$ 759, meio salário mínimo, de rendimento por pessoa em julho. Elas tiveram um aumento de renda maior que o limite da Regra de Proteção.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), das 1,7 milhão de vagas com carteira assinada criadas no Brasil em 2024, 98,8% foram ocupadas por pessoas cadastradas no CadÚnico. Entre os contratados, 1,27 milhão (75,5%) eram beneficiários do Bolsa Família.
O combate à fome no Brasil tem, além do Bolsa-Família, um conjunto de políticas públicas conjugadas, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan).
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