Dilma: sistema financeiro ainda põe 'fardos mais pesados' sobre os mais pobres
"Demonstramos, nos últimos 10 anos, que é possível construir uma instituição confiável, eficiente e adaptável, que produz resultados reais e, ao mesmo tempo, defende os valores da solidariedade, equidade e soberania"

Ao participar da cerimônia de 10 anos do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), nesta sexta-feira (4/7), a presidenta da instituição, Dilma Rousseff, avaliou que o desenvolvimento deve ser sustentável, inclusivo, justo, resiliente e soberano. “Comemoramos, portanto, a primeira década do banco não só com orgulho, mas com senso renovado de propósito.”
“Nós estamos apenas começando. Em nossa primeira década, o NDB lançou as bases. Na próxima década, devemos consolidar nosso papel de liderança para o desenvolvimento equitativo, sustentável e autônomo em um mundo multipolar. O que significa desenvolver ainda mais uma instituição que não seja apenas financeiramente sólida, mas que também seja politicamente relevante e transformadora”, disse Dilma.
“O mundo de hoje não é o mesmo de 2015. Está mais fragmentado, mais desigual e mais exposto a crises sobrepostas – crises climáticas, econômicas, geopolíticas. O multilateralismo está sob pressão. Testemunhamos um recuo na cooperação e o ressurgimento do unilateralismo.”
Segundo Dilma, tarifas, sanções e restrições financeiras estão sendo utilizadas como “ferramenta de subordinação política”. “Cadeias produtivas globais estão sendo reestruturadas, não apenas pela busca de mais eficiência, mas sim por interesses geopolíticos”.
“E o sistema financeiro internacional continua profundamente assimétrico, colocando os fardos mais pesados sobre aqueles com menos recursos. O cenário exige mais e não menos cooperação. E exige instituições que reflitam as realidades e as aspirações do mundo de hoje, não somente do mundo de oito décadas atrás, explicou”.
Para Dilma, a missão proposta pelo NDB segue “não apenas relevante, mas essencial”. “Demonstramos, nos últimos 10 anos, que é possível construir uma instituição confiável, eficiente e adaptável, que produz resultados reais e, ao mesmo tempo, defende os valores da solidariedade, equidade e soberania”.
“Não temos o objetivo de substituir quem quer que seja. Porém, buscamos provar que há mais de uma maneira de promover o desenvolvimento. E os países emergentes e em desenvolvimento merecem instituições que compreendam seus desafios, respeitem suas escolhas e apoiem suas ambições”, concluiu.
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Entenda
Criado em 2015, o New Development Bank ou Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como Banco do Brics, é um banco multilateral de desenvolvimento criado para mobilizar recursos para financiar projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento.
De acordo com o site da instituição, o NDB já aprovou um total de 120 projetos e US$ 39 bilhões (o equivalente a mais de R$ 210 bilhões) em financiamentos.
Países fora do Brics, como o Uruguai, a Argélia e Bangladesh, também podem fazer parte da instituição. Os fundadores do Brics, entretanto, são os maiores depositantes de recursos do banco de fomento. A Colômbia também manifestou interesse em se tornar integrante. A entrada no Brics, por outro lado, não garante acesso direto ao NDB.
Em 2023, a ex-presidente Dilma Rousseff foi escolhida presidente do NDB, indicada pelo governo brasileiro. Em 2025, foi reeleita, indicada pelo governo da Rússia.
Brics
O bloco se define como um foro de articulação político-diplomática de países que formam o chamado sul global, buscando cooperação internacional e tratamento multilateral de temas globais.
Além de buscar mais influência e equidade de seus integrantes em instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brics tem em seu radar a criação de instituições voltadas para seus participantes, como o NDB.
Por não constituir uma organização internacional, o Brics não tem orçamento próprio ou secretariado permanente.
Com reportagens de Paula Laboissiére/Agência Brasil e Mayara Souto/Brics Brasil
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