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Lula: 'Um novo modelo de desenvolvimento, justo e inclusivo, é possível'

Presidente brasileiro, anfitrião da reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), presidido por Dilma Rousseff, defende linhas de financiamento sem condicionalidades regressivas e criação de moeda alternativa ao dólar. Assista a vídeo

Isaías Dalle | Agência Gov
04/07/2025 10:15
Lula: 'Um novo modelo de desenvolvimento, justo e inclusivo, é possível'
Ricardo Stuckert/PR

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião da reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), presidido por Dilma Rousseff, fez breve discurso em que defendeu um novo modelo de desenvolvimento, com linhas de crédito multilaterais que não sobrecarreguem os países com mais dívidas a juros exorbitantes e condicionalidades - em crítica implícita ao FMI - e que instituam um novo modelo de desenvolvimento internacional, diferente daquele que vigorou durante o século 20.

Uma nova arquitetura financeira e um novo modelo de desenvolvimento mais justo e inclusivo é possível", disse Lula, durante discurso. "A missão [do NDB] é criar novos mecanismos de financiamento. Não é possível, no século 21, tratar o financiamento da mesma forma", completou.

Lula também defendeu que o NDB lidere um esforço pela criação de uma nova moeda para lastrear o comércio internacional, em alternativa ao dólar. Ainda sobre as linhas de financiamento, Lula exortou os presentes - lideranças políticas de diversos países e executivos de bancos - a abolirem "condicionalidades" que produzem mais pobreza nas nações que contraem empréstimos junto a organismos internacionais.

Segundo Lula, empréstimos nos moldes hoje predominantes produzem mais dependência: "Pobre fica mais pobre e rico fica mais rico. É isso que nós temos que mudar". Retomando mote que serviu de guia ao Fórum Social Mundial, Lula afirmou que "um outro mundo é possível".

O presidente voltou a criticar a debilidade da ONU, "insignificante", segundo ele, um organismo que foi capaz de ter criado o estado de Israel, mas incapaz de criar o estado da Palestina, e apontou carência de lideranças políticas fortes.

"O problema é político", disse, conclamando os presentes a buscar alternativas para um fluxo internacional de recursos financeiros que combata a miséria e priorize a justiça social em lugar da guerra. Dirigindo-se a Dilma Rousseff, presidente do NDB, disse que o banco do Brics pode e deve liderar esses esforços.

Na opinião de Lula, submeter os investimentos a uma agenda social é necessário para defender a liberdade dos povos. "Fora a democracia e o multilateralismo, não há saída", disse.

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Assista a transmissão do Canal Gov:

Leia o discurso de Lula:

"É com grande satisfação que participo da abertura da décima reunião do Novo Banco de Desenvolvimento ao lado da minha querida companheira, a presidenta Dilma Rousseff.

Quero saudar a recente entrada da Argélia como membro pleno do NDB e o processo de adesão da Colômbia, do Uzbequistão e do Uruguai.

Outros grandes países como a Indonésia e Turquia vêm demonstrando interesse em se somar.

Isso comprova o potencial do NDB em atrair parceiros e como foro de cooperação financeira multilateral inclusivo, eficaz e representativo.

O NDB nasceu aqui no Brasil, na Cúpula de Fortaleza, em 2014.

A decisão de criá-lo foi um marco na atuação conjunta dos países emergentes.

É fruto do desejo compartilhado de superar o profundo déficit de financiamento para o desenvolvimento sustentável.

A falta de reformas efetivas nas instituições financeiras tradicionais limita, há décadas, o volume e os tipos de crédito oferecidos pelos bancos multilaterais.

A Conferência de Sevilha, encerrada há poucos dias, deixou claro que os recursos para a implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ainda não estão disponíveis na velocidade e na quantidade necessárias.

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Lula e Dilma Rousseff, presidente do NDB, na abertura do encontro

Em vez de aprofundar disparidades, o Novo Banco de Desenvolvimento assenta sua governança na igualdade de voz e voto.

No lugar de oferecer programas que impõem condicionalidades, o NDB financia projetos alinhados a prioridades nacionais.

O fortalecimento do uso de moedas locais tornou-se sua característica marcante.

Atualmente, 31% dos projetos do NDB são realizados nas moedas dos países membros.

A implementação do novo mecanismo de garantias multilaterais do BRICS, resultado da presidência brasileira, terá impacto positivo na capacidade de mitigação de risco e mobilização de capital privado.

Esse é um reforço essencial da institucionalidade financeira do Banco e expande sua área de atuação.

Hoje, o NDB contribui de forma crescente na promoção de uma transição justa e soberana.

Desde sua criação, mais de 120 projetos de investimento, no valor total de 40 bilhões de dólares, foram aprovados para as áreas de energia limpa e eficiência energética, transporte, proteção ambiental, abastecimento de água e saneamento.

No Brasil, os recursos do Novo Banco já financiaram mais de 20 projetos em diferentes setores e regiões do país, totalizando mais de 3,5 bilhões de dólares.

Sua rápida ação diante da catástrofe causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul confirma sua agilidade frente a situações de crise.

O compromisso do NDB de direcionar 40% de seus financiamentos para projetos em desenvolvimento sustentável está alinhado com a Declaração sobre Financiamento Climático que adotaremos na Cúpula do BRICS.

Essa é uma iniciativa que serve de estímulo à mobilização de recursos na reta final que nos levará à COP 30 em Belém, no coração da Amazônia.

Diante da acelerada transição digital em curso, o NDB vem destinando investimentos para a integração de novas tecnologias em setores como saúde, educação, transporte e infraestrutura.

O Brasil espera que o Banco financie estudo de viabilidade para um cabo submarino ligando os países do BRICS, que contribuirá para nossa soberania e aumento da velocidade na troca de dados.

O NDB foi parceiro de primeira hora da Aliança contra a Fome e a Pobreza, lançada pelo G20 no ano passado, e da Rede de Pesquisa de Tuberculose do BRICS.

Em um cenário global cada vez mais instável, marcado pelo ressurgimento do protecionismo e do unilateralismo e impactado pela crise climática, o papel do NDB na redução de nossas vulnerabilidades será crescente.

Nosso Banco é mais do que um grande banco para países emergentes, ele é a comprovação de que uma arquitetura financeira reformada é viável e que um novo modelo de desenvolvimento mais justo é possível."


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