Para Lula, acordo Mercosul-União Europeia será resposta do multilateralismo às relações globais
A tentativa de acordo, que está em discussão há 26 anos e enfrenta resistência da França e da Itália, será um dos temas tratados na reunião de cúpula do Mercosul que acontece neste sábado (20). "Eu quero fazer o acordo porque eu acho importante do ponto de vista político, do ponto de vista da defesa do multilateralismo, e até de valorizar a reconstrução da OMC", disse Lula.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera a discussão do acordo entre Mercosul e União Europeia um dos temas cruciais a serem tratados neste sábado (20/12), em Foz do Iguaçu. A 67ª Reunião de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados ocorre dentro do Parque Nacional do Iguaçu, no Belmont Hotel das Cataratas. E Lula levará aos países do bloco e parceiros a importância da celebração do acordo para o multilateralismo nas relações comerciais e políticas do mundo.
A celebração definitiva do acordo era esperada para este sábado, mas foi adiada em razão de manifestações por parte dos governos da França e da Itália . Ainda que, como avalia o próprio presidente Lula, o acordo construído seja favorável ao bloco europeu.
"O acordo é mais favorável à União Europeia do que a nós. Nós dissemos para eles que esse acordo é extremamente importante do ponto de vista político", observou Lula, durante entrevista coletiva nesta quinta (18/12) no Palácio no Planalto.
É um acordo que envolve 722 milhões de seres humanos, com 22 trilhões de dólares (em volume). É um acordo que vai dar uma resposta de sobrevivência, de sobrevida do multilateralismo àqueles que querem construir o unilateralismo. Por isso o acordo é importante”, disse o presidente.
“Essa tentativa de acordo entre Mercosul e União Europeia existe há 26 anos. Eu quero fazer o acordo porque eu acho importante do ponto de vista político, do ponto de vista da defesa do multilateralismo, e até do ponto de vista de valorizar a reconstrução da OMC (Organização Mundial do Comércio). Se não vai ser possível assinar agora porque [a UE] não vai estar pronta, também não posso fazer nada. Vamos aguardar amanhã. A esperança é a última que morre”, afirmou Lula.
O presidente lembrou que construção do acordo evoluiu nos últimos anos e que dois líderes da UE, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e António Costa, presidente do Conselho Europeu, já haviam se comprometido a trabalhar para que o documento fosse assinado neste ano.
“Nas conversas e nas tratativas que nós tivemos com a União Europeia, tanto com a Ursula von der Leyen quanto com o António Costa assumiram o compromisso de que este ano a gente fecharia o acordo União Europeia-Mercosul. Da parte do Mercosul está tudo resolvido. O Mercosul está 100% disposto, mesmo não ganhando tudo o que a gente queria ganhar”, disse Lula.
França e Itália
Ao comentar a resistência da França à assinatura do acordo, Lula disse que a posição dos franceses sempre foi muito clara. A novidade, segundo o presidente, foi o posicionamento da Itália. “Eu sempre soube que a França era contra. Eu conversei muitas vezes com o Macron (Emmanuel Macron, presidente da França). Conversei muitas vezes com a oposição francesa. Cheguei a conversar até com a Brigitte (Brigitte Macron, primeira-dama da França). Pedi para ela abrir o coração do Macron para fazer o acordo”, recordou.
“A novidade para mim foi a Itália. E eu liguei hoje (18) para a primeira-ministra Meloni (Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália). Disse para ela que a data de 20 de dezembro não foi uma data proposta por nós. O 20 de dezembro foi uma data proposta pela Ursula von der Leyen e pelo António Costa, dizendo que no dia 19 eles iriam votar em Bruxelas e que viriam aqui para que a gente assinasse o acordo. Ela ponderou que ela não é contra o acordo. Ela apenas está vivendo um certo embaraço político por conta dos agricultores italianos, mas que ela tem certeza que é capaz de convencê-los a aceitar o acordo”, destacou Lula.
“Ela então pediu que, se a gente tiver paciência de uma semana, de dez dias, de no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo. Eu disse para ela que vou colocar o que ela me falou na reunião do Mercosul e vou propor aos companheiros decidirem o que querem fazer”, continuou o presidente.
Cúpula do Mercosul
A Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados marca o encerramento da presidência pro tempore brasileira do bloco, que foi caracterizada pelo fortalecimento das articulações políticas, econômicas e sociais entre os países da região e com parceiros externos. O Paraguai assumirá a presidência pro tempore.
A Cúpula foi precedida, ontem (19), da 67ª Reunião Ordinária do Conselho do Mercado Comum (CMC) e agenda de Reuniões de Ministros das Relações Exteriores dos estados-membros e associados do Mercosul, e de ministros da Economia e de presidentes do Banco Central dos estados-membros, além de convidados especiais.
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