Todos os países têm a aprender e ensinar para mudar o cenário mundial de misoginia e ódio, diz ministra das Mulheres
Para a ministra brasileira da Mulheres, Cida Gonçalves, tudo que se discute no G20 Social influencia a vida das pessoas ao impulsionar novas práticas aos poderes públicos e à sociedade
A misoginia e o ódio são um fenômeno do mundo todo e o documento do G20 sobre Empoderamento das Mulheres traz isso com muita força. A ministra brasileira das Mulheres, Cida Gonçalves, fala com muita propriedade e sobra a ampla temática e sobre cada tópico de desigualdade que compromete a existência de um mundo mais justo. Ela é a entrevistada desta sexta-feira (15/11) do segundo programa Giro Social, do Canal Gov, da EBC, produzido no ambiente do fórum do bloco das 20 maiores economias do mundo.
Cida Gonçalves afirma com convicção que tudo que se debate no G20 Social vai impactar diretamente o cotidiano das pessoas, porque reflete em novas práticas, tanto dos poderes públicos quanto dos atores que influenciam o funcionamento da sociedade.
"Todo o debate colocado efetivamente para as mulheres influenciou em diversos avanços. O presidente Lula, inclusive, desde que reassumiu a presidência da República, tem dito em todos os espaços sobre a questão da igualdade de gênero e a igualdade de raça. Esse G20 vai lançar a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, e nós sabemos que a maioria das pessoas que passam fome e vivem em situação de pobreza são as mulheres do mundo. Então o G20 influencia todas políticas, sim.
A ministra enfatiza. "Eu acredito que o debate que está sendo feito no G20 reflete o cotidiano. Nós fizemos debates no grupo de Empoderamento das Mulheres sobre as práticas de cada uma de nós e como isso muda a vida das mulheres. Não é fácil. Quando a gente fala em desafios, não significa que não avançamos, por exemplo, em um ano e dez meses de governo. Fizemos muita coisa: no enfrentamento à violência, na política de cuidado, de igualdade salarial, na questão da formação e qualificação das pessoas. Tudo isso influencia diretamente, todos os dias, o cotidiano das mulheres do Brasil e do mundo", afirma.
Para Cida Gonçalves, o grade legado de um fórum global como o G20 Social é a capacidade das nações se ajudarem com a troca de experiências e conhecimento. "Todos os países têm alguma coisa com que as gente possa aprender."
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Confira a entrevista da ministra Cida Gonçalves ao Giro Social
O que foi assunto na entrevista
• Questões sobre as ações destinadas a melhorar as condições de vida das mulheres no campo, do ponto de vista do combate à violência e a promoção da cidadania e emancipação econômica.
• O enfrentamento à misoginia e às violências, apesar dos avanços nas últimas décadas, sobretudo em relação às mulheres negras e indígenas.
• O painel sobre desenvolvimento econômica e desenvolvimento sustentável, sob o ponto de vista do fortalecimento da luta pela igualdade de gênero e contra os preconceitos – agravados pelas condições de raça e de renda.
• A Política Nacional de Cuidado, recentemente aprovada pelo Congresso Nacional. “Texto que o presidente Lula encaminhou para o Legislativo traz uma grande avanço”, avalia a ministra, por criar condições para políticas públicas, e avança para criar responsabilidades aos estados e municípios dentro da política de cuidado, permitindo ações integradas para que as mulheres tenham mais tempo para a vida.
• A mobilização nacional pelo feminicídio zero, e balanço do grande “golaço" que foi a ideia de levar para os estádios de futebol a campanha e o canal 180 – criado não só como espaço de denúncia, mas também como meio de difusão de orientações, legais, assistenciais e psicológicas, tanto para as vítimas de violência quanto para pessoas que testemunham episódios de agressão contra mulheres. “Foi uma grande conquista, porque a questão desse combate é que a gente precisa falar com todas as pessoas. Não podemos falar só com a as mulheres: precisamos falar com os homens”, observa Cida. “Quem não sabe o que fazer (diante de uma situação de violência, liga no 180.”
• Os avanços alcançados por outros países – como Chile, Colômbia e México, citados pela ministra – nas lutas também contra a violência climática, além da física e econômica. “Diversas trocas estão sendo feitas visando ao aperfeiçoamento das práticas nos debates do G20. Nós estamos, por exemplo, assinando um acordo de cooperação com o México para troca de experiências nas questões da política de cuidados (que é de autonomia econômica) e do enfrentamento à violência. Todos os países têm alguma coisa com que as gente possa aprender.”
• As mulheres na política, cenário em que o Brasil aparece no segundo pior lugar, entre os membros do G20, na proporção de mulheres no Parlamento. “O Brasil é o penúltimo (no bloco) nesse quesito. Já há vários países que têm paridade de gênero na ocupação do Legislativo. O México está chegando a 60% de senadoras e deputadas.”
• A garantia dos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, e principalmente a questão da saúde integral das mulheres em discussão do G20 Social. “Precisamos garantir, em primeiro lugar, que não haja retrocesso na nossa legislação (que hoje garante o aborto legal, como o decorrente de casos de estupro), até porque hoje a maioria dos casos de violência sexual ocorre entre crianças de 0 a 9 anos, e a maioria das que engravidam são meninas de 12, 13 anos. Ela não pode ser mais uma vez violada, no seu direito, que está no ECA, na Constituição e no Código Penal.”
• A Lei da Igualdade Salarial, sancionada no ano passado, diante de um cenário de defasagens salariais que vão de 20% a 50% para mulheres que executam a mesma função que os homens. “Não podemos mais aceitar que empresas entrem na Justiça contra uma lei existe desde os anos 40. E não se pode mais discutir acordos salariais sem a inclusão da igualdade salarial.”
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