Agricultura

COP 29 começa com acordo para regular mercado global de carbono

Pelo acordo, será criada uma instância, sob comando da ONU, para supervisionar mercado de compra e venda de créditos de carbono. No Brasil, projeto em discussão no Congresso pretende regular internamente esse mercado

Agência Gov | via MMA
12/11/2024 10:45
COP 29 começa com acordo para regular mercado global de carbono
Cadu Gomes/VPR
Geraldo Alckmin e delegação governamental participam da abertura dos trabalhos com representantes do Brasil

A COP29, conferência do clima da ONU, começou nesta segunda-feira (11/11) com a aprovação de regras para um mercado de carbono global sob o Acordo de Paris. A cúpula, que reúne 198 países e é o principal fórum internacional para negociações climáticas, acontece neste ano em Baku, no Azerbaijão, até 22 de novembro.

A decisão, aprovada em um subgrupo da COP que já negociava o tema, detalha as diretrizes para o mecanismo, que será administrado pela ONU. A partir da iniciativa, países e empresas poderão comprar créditos de carbono seguindo regras que respeitem os acordos climáticos internacionais e garantam transparência.

Novas regras para o mercado global de carbono têm relação com um dos objetivos expressos da delegação brasileira na COP29 e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Em cerimônia de abertura realizada nesta terça (12) em Baku, dirigindo-se a uma plateia brasileira, ela destacou que uma das prioridades é estabelecer novos mecanismos de financiamento para os países que preservam seus patrimônios naturais. "Uma receita para o nosso sucesso, com certeza, são os mecanismos de financiamento [para implementar as metas da COP29], sem o que aquilo que anunciamos serão apenas enunciados. Sem os meios de implementação, não haverá como tirá-los da teoria", disse a ministra.

Chefe da delegação brasileira, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também falou na cerimônia de abertura, defendeu o projeto de regulação do mercado interno de carbono que está em apreciação no Congresso Nacional. "Se tudo der certo, será aprovado", disse. Alckmin destacou recentes avanços do Brasil, como a interrupção do desmatamento no Cerrado, após cinco anos de crescimento. "O Brasil é o grande protagonista deste debate", afirmou.


Segundo o presidente da COP29, Muxtar Babayev, a expectativa é que o mecanismo de regulação acordado na COP29 possa diminuir o custo de implementação dos planos climáticos nacionais em US$ 250 bilhões ao ano: “Ao relacionar compradores e vendedores de forma eficiente, esses mercados poderiam reduzir o custo de implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) em US$ 250 bilhões por ano. Em um mundo em que cada dólar conta, isso é essencial”, disse o presidente da COP29.


Na prática, o acordo determina a criação de um grupo formado por técnicos para implementar e supervisionar o mercado de carbono global. O texto também menciona o compromisso de garantir que comunidades tradicionais sejam consultadas sobre projetos que as impactam.

Financiamento é a chave

O sucesso da COP29 será passo fundamental para a COP30. A Conferência de Baku tem sido chamada como “COP do financiamento”. Terá por mandato principal a definição do novo objetivo de financiamento climático, a influenciar a ambição da próxima rodada de compromissos nacionais com vistas à COP30, em 2025

Conforme os compromissos assumidos na Convenção e no Acordo de Paris, os países desenvolvidos – em razão de suas responsabilidades históricas e capacidades financeiras e tecnológicas – devem prover e mobilizar financiamento climático para apoiar ações em países em desenvolvimento. O Brasil destaca a importância de que o NCQG forneça recursos em bases concessionais, evitando aumento do endividamento de países em desenvolvimento. Advoga, ainda, maior clareza na definição do que constitui “financiamento climático”, eliminando instrumentos financeiros e atividades que não deveriam ser contabilizadas.

O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, Tropical Forests Forever Facility) é uma das estratégias brasileiras para o enfrentamento das mudanças climáticas. Apresentado durante a COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, tem o intuito de remunerar países em desenvolvimento que conservam suas florestas tropicais, destinando o capital investido a ativos verdes e aplicando o retorno para manter as florestas de pé. A iniciativa realizará pagamentos por cada hectare de vegetação em pé, com penalização por hectare desmatado ou degradado, e garantirá recursos adicionais para a proteção da biodiversidade, de territórios tradicionais e a manutenção dos serviços ambientais.

O Brasil lançou ainda a Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP) para apoiar o avanço das ambiciosas metas climáticas do país, ampliando investimentos na transformação ecológica rumo à descarbonização da economia, o uso sustentável dos recursos e a melhora da qualidade de vida da população. A Plataforma apoia o Plano de Transformação Ecológica e demais planos de transição e adaptação climática do governo em setores-chave. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atuará como o Secretariado da Plataforma, gerindo o dia a dia das operações. A plataforma apoiará três setores principais e subsetores para a transformação ecológica: Soluções Baseadas na Natureza e Bioeconomia, Indústria e Mobilidade, e Energia.

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Um dos outros temas-chave dos onze dias de conferência será a Nova Meta Coletiva Global Quantificada (NCQG, na sigla em inglês), objetivo global de financiamento climático que deve ser definido neste ano. A quantia substituirá o piso de US$ 100 bilhões anuais, estabelecido em 2009, e nunca cumprido pelos países desenvolvidos, principais responsáveis históricos pelas emissões de gases-estufa.

A NCQG precisa considerar as necessidades e prioridades dos países em desenvolvimento e, pelo cronograma, deve ser decidida neste ano. O debate incluirá discussões sobre temas como a nova cifra, quem irá contribuir para o fundo, por quanto tempo irá funcionar e quem os recursos beneficiarão.

Missão brasileira

A nova meta climática do Brasil no Acordo de Paris, anunciada na última semana, será entregue pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, chefe da delegação brasileira na COP29. A segunda Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira estabelece o compromisso do país em reduzir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa de 59% a 67% em 2035, na comparação com os níveis de 2005. Isso equivale, em termos absolutos, a uma redução de emissões para alcançar entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente em 2035.

A nova NDC abrange todos os setores da economia e está alinhada ao objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento médio do planeta a 1,5ºC em relação ao período pré-industrial, conforme Balanço Global acordado na COP28, em Dubai, em 2023. Esse compromisso permitirá ao Brasil avançar rumo à neutralidade climática até 2050, objetivo de longo prazo do compromisso climático.

A nova meta representa etapa-chave para promoção de um novo modelo de desenvolvimento, por meio da implementação de iniciativas como Plano Clima, Plano de Transformação Ecológica, Pacto entre os Três Poderes pela Transformação Ecológica, entre outras. Também amplia a meta de corte de emissões apresentada na primeira NDC, consolidando uma trajetória de aumento de ambição, como determina o Acordo de Paris, de 2015. Em comparação com o objetivo já estabelecido para o ano de 2030, há incremento de 13% a 29% em ambição em termos de redução de emissões absolutas.

Plano Clima — O caminho para a implementação da NDC é traçado pelo Plano Clima, que guiará as ações de enfrentamento à mudança do clima no Brasil até 2035. O plano terá eixos voltados à redução de emissões de gases de efeito estufa (mitigação) e à adaptação aos impactos da mudança do clima, com planos setoriais para cada um deles — serão sete para mitigação e 16 para adaptação. Para viabilizar essa nova visão de desenvolvimento, serão empregados instrumentos econômicos como o Fundo Clima, Títulos Soberanos Sustentáveis, Eco Invest Brasil, Taxonomia Sustentável Brasileira e o Fundo Florestas Tropicais para Sempre.

Presidência azerbaijana— Baku é a capital e maior cidade do Azerbaijão. Com pouco mais de 2 milhões de habitantes, está situada à beira do Mar Cáspio, 28 metros abaixo do nível do mar. O Azerbaijão está localizado entre o Leste Europeu e o Sudoeste Asiático, e sua população é composta majoritariamente por muçulmanos. Foi uma república soviética entre os anos de 1920 e 1991 e hoje é uma república presidencialista, governada pelo presidente Ilham Aliyev desde 2003. A economia do país encontra-se em processo de transição, na qual o Estado continua a exercer um papel importante, e é baseada na exportação de petróleo e gás natural, mas conta também com grande potencial agrícola.

A presidência azerbaijana apresenta a COP29 como uma "conferência habilitadora", ao definir o volume de recursos providos pelos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, em apoio à transição rumo à economia de baixo carbono. O novo objetivo coletivo quantificado de financiamento climático (NCQG, na sigla em inglês) substituirá o compromisso dos países desenvolvidos de prover US$ 100 bilhões anuais a países em desenvolvimento.

A presidência elencou os seguintes temas considerados prioritários: conclusão nas negociações sobre instrumentos de cooperação e mercado (Art. 6 do Acordo de Paris); definição de indicadores do Objetivo Global de Adaptação; temas relacionados a perdas e danos; mecanismo de implementação sobre tecnologia; aprovação de novo programa de trabalho de gênero e mudança do clima; avanços no plano de trabalho de transição justa.

Pavilhão Brasil — O pavilhão brasileiro na COP29 é um espaço único na Zona Azul, que concentrará debates diversos sobre atividades do Governo Federal, estados, municípios, sociedade civil, movimento negro, povos indígenas, quilombolas, setor privado, trabalhadores, cooperativas e pequenas e médias empresas. Cerca de 60 eventos destacarão ações brasileiras nos eixos da transformação ecológica no país: Nova Infraestrutura Verde e Adaptação; Finanças Sustentáveis; Bioeconomia e Sistemas Agroalimentares; Transição Energética; Adensamento Tecnológico e Setor Produtivo; e Economia Circular.

Preparativos para a COP30— A um ano da COP30, o governo brasileiro tem intensificado os preparativos para receber mais de 60 mil pessoas, entre chefes de Estado, diplomatas, empresários, investidores, ativistas e delegações dos 193 países membros. Os investimentos somam R$ 4,7 bilhões, entre recursos do Orçamento Geral da União, do BNDES e de Itaipu. O valor se traduz em uma série de obras de saneamento, macrodrenagem, urbanização e restauração de prédios históricos que visam atender à demanda crescente por transporte, alojamento e espaços adequados para a realização da Cúpula. Ao todo, são mais de 20 obras que vão preparar Belém, no Pará, para sediar o maior evento climático do mundo, além de deixar um legado para a população paraense.

Com informações da Secom-PR e do MMA

Link: https://www.gov.br/mma/pt-br/cop29-comeca-no-azerbaijao-com-acordo-sobre-mercado-de-carbono
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